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21.07.13   |   Saúde Ocular

As pupilas da Sra. Irlen

Revista Veja

Colunista: Claudio de Moura Castro

O primeiro e colossal desafio da escola é ensinar a ler e escrever. De fato. para desespero de todos, não são raros os problemas e desastres que impedem que isso aconteça. As explicações borbulham. Não poderia ser o método de ensinar? Professores não ousam pronunciar tal palavra, mas pensam ser "burrinhos" os que não aprendem.
Cerca de metade dos alunos brasileiros atinge o quarto ano funcionalmente analfabetos. Seriam disléxicos? Por aí não avançamos, pois a palavra meramente identifica dificuldades de leitura, sem explicar causas.
Teriam problemas de visão, obviamente críticos para o aprendizado? Mas os oftalmologistas identificam não mais do que 2% ou 3% de crianças com problemas de acuidade visual. Pouquíssimas, diante das que têm dificuldades de aprendizado. Mas, em Belo Horizonte, os doutores Mareia e Ricardo Guimarães perseguem uma nova pista. Apesar de quase todos identificarem as letras, pode haver uma pane no circuito que liga os olhos ao córtex visual. Ao ler um texto, a pupila precisa mover-se (oculo-motricidade) e fazê-lo sem sacolejões. Pior, há casos em que uma pupila não sincroniza com a outra. Anda e para, desgarrada da irmã. Daí, dificuldades de concentração, dores de cabeça, enjoos e aversão à luz. E, obviamente, péssimos resultados na escola.
Há hoje aparelhos que acompanham o movimento das pupilas - através de sensores infravermelhos que captam os movimentos sacádicos - mostrando na tela de um computador se há uma trajetória errática, paradas ou desencontros entre um olho e outro. Essa desorganização no movimento das pupilas (sistema magnocelular) foi chamada de síndrome de Irlen. uma referência à psicóloga que a identificou e tratou.
Tal movimentação confusa explica as dificuldades de leitura daqueles que sofrem desse mal. Segundo pesquisas, cerca de metade dos que têm dificuldade de leitura tem também processamento magnocelular deficiente. Mas, como os testes convencionais são estáticos, o problema passa despercebido. A falha não é um problema de inteligência. pois sabe-se que há pessoas bem sucedidas que compensaram essa síndrome com outras estratégias.
Até muito recentemente, a enfermidade permaneceu fora do radar dos oftalmologistas, pois estudavam apenas os olhos. E até hoje algumas alas da oftalmologia e da educação contestam esse caminho, sobretudo por estar em território interdisciplinar. Contudo, a equipe do doutor Ricardo está desenvolvendo equipamentos mais baratos, mapeando a sua epidemiologia, e já preparou 2 000 agentes de saúde para diagnosticar a síndrome de Irlen. Os dados sobre a sua incidência ainda deixam a desejar. Mas, pelo que já se descobriu, pode variar entre 6% e 17%, afetando em maior ou menor grau a fluência da leitura.
Esses números sugerem uma proporção surpreendente de "falsos disléxicos". Ou seja, o problema deles não é identificar letras individualmente nem uma disfunção intelectual para a leitura. Em vez disso, como a pupila tem dificuldade de seguir a linha do texto, isso se revela penoso. Quantos disléxicos tiveram diagnóstico errado? Achávamos que não liam por problemas cognitivos. Agora vemos que não são burrinhos. Aparece outra explicação: é um problema da `fiação elétrica" que liga os olhos ao córtex.
Mas há notícias boas. É possível filtrar algumas frequências do espectro visual, culpadas pelos descaminhos da pupila. Depois de alguns testes simples, encontram-se os bons filtros. Custando menos de 30 reais, uma lâmina colorida, colocada sobre o livro, corrige as pupilas recalcitrantes. Mais caros, porém mais convenientes, são óculos que fazem o mesmo serviço.
Do doutor Ricardo ouvi descrições de alunos e mães que choravam ao perceber uma cura instantânea. Apesar de o programa ser financiado por uma pequena fundação privada, cerca de 1500 crianças já foram tratadas.
Raramente há soluções baratas e fulminantes para os problemas de aprendizado. Para uma proporção ainda imprecisa de alunos, essa cura existe. Que isso não seja usado, porém, para justificar descaso ou incompetência no processo de alfabetização. A síndrome de Irlen não pode virar o bode expiatório para lambanças da escola.

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